Uma concepção sociológica dos acidentes do trabalho
UMA CONCEPÇÃO SOCIOLÓGICA DOS ACIDENTES DO TRABALHO
Este artigo situa o desenvolvimento da noção moderna do acidentes do trabalho no seu contexto histórico, fornecido pelo movimento de uma sociedade pré-industrial a uma sociedade industrial. Esta noção teoriza as causas dos acidentes em termos de condições inseguras e atos falhos, e está na base das abordagens que dominam a prevenção de acidentes hoje. Esta noção está agora entrando em colapso. Delineia-se uma teoria sociológica da produção dos acidentes do trabalho na qual os acidentes são concebidos como produtos de relações sociais do trabalho.Postula-se que uma perspectiva sociológica tem um papel a desempenhar na construção de novas práticas de prevenção.
TOM DWYER – Professor do Deptº de Ciência Política do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp; Coordenador do Programa de PósGraduação do Departamento de Ciência Política do IFCH/Unicamp - Área Sindicalismo e Trabalho.
Palavras-chaves: acidentes do trabalho, segurança industrial, Sociologia do trabalho, Sociologia industrial. Artigo recebido em 19.7.1993 1. INTRODUÇÃO Os atuais métodos de análise dos acidentes do trabalho e as tentativas de reduzi-los não têm sido muito eficazes na opinião de pesquisadores importantes. Isso tem levado à sensação generalizada de que “na pesquisa dos acidentes do trabalho são necessárias teorias radicalmente novas” 1 O problema é sério. Na década de 1980, mais de 10 milhões de brasileiros tiveram algum tipo de acidente do trabalho, 260 mil vítimas foram condenadas à invalidez permanente e 40 mil encontraram a morte. Isto é o que contam os dados oficiais, muito pouco confiáveis. Mas os trabalhadores não são os únicos ameaçados pelos acidentes produzidos pela indústria moderna. Em casos com Chernobyl, Three Mile Island, Bhopal, Goiânia, Vila Socó, Seveso, Amoco Cadiz e Guadalajara grandes populações civis, futuras gerações e o meio ambiente ficaram ameaçados. E os recursos gastos em internações