Uma aprendizagem poética
Texto-base: Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres
Autora: Clarice Lispector
Primeira parte: conceito e poética do texto
Como não poderia deixar de ser, minhas primeiras considerações serão sobre a poética (pois temos visto que não podemos aprender antes do espanto primordial). Não se pode escrever sobre Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres sem antes mencionar a poética, ela está presente na obra de Clarice Lispector da mesma forma que está enraizada na própria vida.
Quando os gregos mencionaram a palavra poiésis pela primeira vez, talvez não soubessem a dimensão que ela tomaria. Donos de uma linguagem muito mais abrangente do que qualquer dialeto moderno (com palavras que diziam muito mais do que se pode traduzir) os gregos sintetizaram todas as mensagens verbalizadas a partir do canto original em uma única palavra, que sistematiza a regência do multiverso do ser e estar. Sistematiza sem limitar, o que pode ser uma dor de cabeça para qualquer estudioso da metalinguagem uma vez que a palavra parte de uma cultura ideológica que não tinha o hábito prender o mundo a sua volta em um único significado. O planeta azul é um conceito do homem moderno, do homem que já não espera mais novidades dessa Terra. E pudera já que é possível mapear o globo por completo apenas fazendo uso de um computador doméstico. Tempos atrás o homem nunca imaginaria poder ver o mundo inteiro do alto, logo o mundo poderia ter um milhão de cores, o azul pertencia apenas ao mar e aos seus segredos. Do mar poderia se esperar qualquer coisa. Atravessá-lo significava ver parte do segredo de ser na vida pois a vida era no mar. Os gregos desbravaram corajosamente o mar através de heróis cantados nas grandes epopeias. Poiésis era tão abrangente quanto o mar, era a forma indizível dos segredos que ele guardava, poiésis era o espanto de saber que da vida nada se sabia mesmo viajando pelo mar. Poética e poiésis dizem a mesma coisa ao não dizer nada do que pretendem