Técnico
Não é meu
(...)
Quando Trotsky caiu em desgraça na União Soviética, sua imagem foi literalmente apagada de fotografias dos líderes da revolução, dando início a uma transformação também revolucionária do conceito de fotografia: além de tirar o retrato de alguém, tornou-se possível tirar alguém do retrato.
A técnica usada para eliminar o Trotsky das fotos foi quase tão grosseira — comparada com o que se faz hoje — quanto a técnica usada para eliminar o
Trotsky em pessoa (um picaretaço, a mando do Stalin).
Hoje não só se apagam como se acrescentam pessoas ou se alteram suas feições, sua idade e sua quantidade de cabelo e de roupa, em qualquer imagem gravada. A frase “prova fotográfica” foi desmoralizada para sempre, agora que você pode provar qualquer coisa fotograficamente.
Existe até uma técnica para retocar a imagem em movimento, e atrizes preocupadas com suas rugas ou manchas não precisam mais carregar na maquiagem convencional — sua maquiagem é feita eletronicamente, no ar.
Nossas atrizes rejuvenescem a olhos vistos a cada nova novela (...).O fotoxópi é um revisor da Natureza.
Lembro quando não existia fotoxópi e recorriam à pistola, um borrifador à pressão de tinta, para retocar as imagens.
Se a prova fotográfica não vale mais nada nestes novos tempos inconfiáveis, a assinatura muito menos. Textos assinados pela Martha Medeiros, pelo
Jabor, por mim e por outros, e até pelo Jorge Luís
Borges, que nenhum de nós escreveu — a não ser que o Borges esteja mandando matérias da sua biblioteca sideral sem que a gente saiba —, rolam na internet, e não se pode fazer nada a respeito a não ser negar a autoria — ou aceitar os elogios, se for o caso. Agora mesmo está circulando um texto atacando o “Big Brother Brasil”, com a minha assinatura, que não é meu. Isso tem se repetido tanto que já começo a me olhar no espelho todas as manhãs com alguma desconfiança. Esse cara sou eu mesmo? E se eu estiver fazendo a barba