Técnica de reportagem. notas sobre a narrativa jornalística
Uma reportagem - a entrevista de José Américo a Carlos Lacerda - precipitou a queda do regime ditatorial de Vargas, em 45. Uma série de reportagens do Washington Post sobre a invasão da sede do Partido Democrata norte-americano provocou a derrubada do presidente Nixon, nos idos de 70. Algo distantes no tempo, próximos em seus efeitos, os dois exemplos valem para ilustrar a vitalidade do poder denunciantes do jornalismo na sociedade contemporânea. Mas a exemplificação poderia recuar ainda mais no passado, com o mesmo vigor nos resultados.
É preciso acentuar, no entanto, que a conquista do jornalismo moderno é usar essa sua força de maneira sedutora: nenhum rebuscamento estéril, nenhuma forma monótona deve colocar-se entre o olhar do leitor e o fato restituído em sua veracidade. É na reportagem - mais do que na notícia, no editorial ou no artigo - que se cumpre esse mandamento.
Por isso, é a reportagem - onde se contam, se narram as peripécias da atualidade - um gênero jornalístico privilegiado. Seja no jornal nosso de cada dia, na imprensa não-cotidiana ou na televisão, ela se afirma como o lugar por excelência da narração jornalística. E é mesmo, a justo título, uma narrativa - com personagens, ação dramática e descrições de ambiente - separada entretanto da literatura por seu compromisso com a objetividade informativa.
Esse laço obrigatório com a informação objetiva vem dizer que, qualquer que seja o tipo de reportagem (interpretativa, especial etc.), impõe-se ao redator o "estilo direto puro", isto é, a narração sem comentários, sem subjetivizações.
Houve, é verdade, um período "épico", em que o herói era o próprio repórter (a revista O Cruzeiro é o grande exemplo brasileiro), com sua coragem e suas opiniões. Hoje, porém, a reportagem - mesmo com eventuais rasgos de heroísmo do repórter em sua atividade investigativa - é um gênero pautado por regras objetivas. Os tópicos a seguir pretendem dar conta de algumas dessas regras.
A narrativa