Tráfico de escravos
No entanto, antes da disseminação dessas visões preconceituosas sobre a África, esse continente foi objeto de muitas obras de árabes, europeus e dos próprios africanos, que retrataram suas principais sociedades, estruturas políticas e econômicas, bem como seus aspectos culturais, visões de mundo, expressões artísticas e formas de organização familiar. Essas obras, acompanhadas da cultura material e de depoimentos, nos ajudam a entender esse continente tão próximo geográfica e culturalmente do Brasil.
Os africanos, depois da longa e penosa travessia do Atlântico, foram para cá trazidos e levados a trabalhar como escravos em várias atividades econômicas no campo e na cidade e sofreram a violência e a opressão inerentes ao sistema escravista. No entanto, apesar das agruras e dos obstáculos impostos pela escravidão no Brasil, os africanos e seus descendentes, convivendo com brancos d’além-mar e nacionais, pardos, indígenas, crioulos e africanos de diferentes regiões, encontraram meios para se organizar e manifestar as suas culturas e, dessa forma, influenciaram profundamente a sociedade brasileira, como se poderá perceber ao longo deste livro.
Tendo em vista a complexidade e a diversidade das sociedades que constituíam o continente africano, o primeiro capítulo oferece um panorama de algumas das principais sociedades da África Subsaariana (território ao sul do deserto do Saara), com destaque para as regiões que, mais tarde, estabeleceram relações comerciais com os europeus e tornaram-se fornecedoras de escravos para o Brasil. São abordadas algumas estruturas políticas e econômicas, bem como determinados aspectos culturais, reservando-se espaço para as questões da religiosidade, a importância da oralidade, as formas de organização familiar, as relações de trabalho e a escravidão em cada uma dessas áreas.
No segundo capítulo são discutidas as questões referentes ao comércio europeu de escravos africanos, enfatizando-se as transformações fundamentais que