Triste Fim de Policarpo Quaresma
Walcyr Carrasco
O clima eleitoral me fez ter uma ideia. Por que só se pode votar para cargos políticos? E se de quatro em quatro anos a vida pessoal também fosse renovada? O casamento, por exemplo. Há quem prometa “para sempre” para depois separar-se em tempo recorde. Seria mais prático se marido e mulher tivessem um “mandato” — ou seja, um compromisso — prefixado em quatro anos. No fim cada um poderia reeleger o outro para novo mandato. Ou não. Acabaria a mesmice da vida conjugal, da qual muitos reclamam. Cada um dos parceiros teria de “fazer campanha” para ser reeleito pelo outro. Três, quatro meses de paraíso!
— Querido, fiz aquele doce de que você gosta!
— Meu amor, comprei passagens para Buenos Aires!
E as palavras de ordem seriam “benzinho”, “docinho”, “amoreco”! Após a reeleição, os laços ficariam mais fortes. Beeemmm... não em todos os casos.
— Estou vibrando porque me reelegeu, querida.
— Foi difícil. Havia tantos candidatos!
— Ahnnn?
Sim! Sempre seria possível a existência de novos postulantes ao posto de marido ou mulher. É do jogo eleitoral. A campanha incluiria jantares, flores, joias, viagens... Que vidão! Só não resolvi ainda a questão dos suplentes. Por exemplo, quando o marido viajasse, um suplente assumiria o posto?
O mesmo deveria valer para os chefes. Muitas vezes um grosseirão subjuga os funcionários. É autoritário, proíbe comemorações, exige sem necessidade a labuta além do expediente etc., etc... Mas na direção da empresa o sujeito é paparicado e tem fama de excelência. Queria ver se de tempos em tempos os funcionários pudessem votar pela manutenção ou mudança de chefe. Uma votação bem secreta, é claro. O sujeito seria obrigado a fazer campanha:
— Churrasco no sábado! Eu fico nos espetos!
Não faltariam promessas eleitoreiras:
— Se ganhar, vou promover todo mundo a gerente. Até a faxineira!
Estratégia idêntica funcionaria entre colegas. Todos votariam em todos. Durante o tempo de campanha, a empresa