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Essa é a história conhecida sobre a abolição da escravatura no Brasil, a última colônia nas Américas a abrir mão do trabalho forçado, mas pouco se fala sobre as verdadeiras intenções do ato de Princesa Isabel - que seguiu um movimento de pressão externa e interna contra a Coroa portuguesa, sendo um fato mais político que humanitário - e das verdadeiras mudanças, refletidas até os dias de hoje.
Mais de um século após a assinatura da Lei Áurea, muita coisa mudou, a população negra soma hoje 50,1% dos cidadãos brasileiros, mas ainda existe um fosso entre negros e brancos no país difícil de transpor e a democracia racial continua sendo um mito.
De acordo com especialistas, essa diferença entre brancos e negros no Brasil tem reflexos basicamente econômicos - na renda e no emprego - mas podem ser notadas também no acesso a serviços básicos, como saúde, Educação Superior, saneamento básico e previdência. Para o professor Marcelo Paixão, coordenador do Laboratório de Análises Econômicas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais (Laeser) da Universidade Federal do Rio de Janeiro, avaliar o tamanho do fosso entre brancos e negros depende de qual aspecto se analisa. "Se vamos analisar mercado de trabalho, renda e emprego, tivemos redução das disparidades. Se falamos em mortalidade materna e taxa de homicídios, o índice ainda assusta", comenta ele. O especialista alerta também para a Previdência Social, que não cobre nem metade da população negra feminina no país.
Outro aspecto que evidencia as desigualdades no país pode ser visto ao analisar a distribuição de renda. Segundo dados do Censo de 2010, o Brasil tem hoje 16,3 milhões de miseráveis (renda inferior a R$70 mensais). Destes, cerca de 70% são negros. Mesmo assim, houve a ascensão de uma classe média negra nos