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«Em primeiro lugar, recordemos o vasto campo semântico da palavra «amor»: fala-se de amor à pátria, amor entre pais e filhos, amor entre irmãos e familiares, amor ao próximo e amor a Deus. Em toda esta gama de significados, porém, o homem e a mulher, no qual concorrem indivisivelmente corpo e alma e se abre ao ser humano uma promessa de felicidade que parece irresistível, sobressai como arquétipo do amor por excelência, de tal modo que, comparados com ele, à primeira vista, todos os demais tipos de amor ficam ofuscados. Surge então a questão: todas estas formas de amor, no fim de contas, unificam-se, sendo o amor, apesar de toda a diversidade das suas manifestações, em última instância um só ou, ao contrário, trata-se de uma mesma palavra para indicar realidades totalmente diferentes?
Ao amor entre homem e mulher, que não nasce da inteligência e da vontade mas de certa forma impõe-se ao ser humano, a Grécia antiga deu o nome de eros. Diga-se desde já que o Antigo Testamento grego usa só duas vezes a palavra «eros», enquanto o Novo Testamento nunca a usa: das três palavras gregas relacionadas com o amor – “eros, philia (amor de amizade) e ágape” – os escritos neo-testamentários privilegiam a última, que, na linguagem grega, era quase posta de lado. Quanto ao amor de amizade (philia), este é retomado com um significado mais profundo no Evangelho de João para exprimir a relação entre Jesus e os seus discípulos. A marginalização da palavra «eros», juntamente com a nova visão do amor que se exprime através da palavra «ágape», denota sem dúvida, na novidade do Cristianismo, algo de essencial e próprio relativamente à compreensão do amor.
Na crítica ao Cristianismo que se foi desenvolvendo com radicalismo crescente a partir do Iluminismo, esta novidade foi avaliada de forma absolutamente negativa. Segundo Friedrich Nietzsche, o Cristianismo teria dado veneno a beber eros que, embora não tivesse morrido, daí teria recebido o impulso