Tratado de Paixões da Alma
Texto: DESCARTES, R. As Paixões da Alma; part. I, pp. 217-237.
Discursus
Descartes era um homem de seu tempo. Como toda pessoa culta do período logo após o Renascimento, Descartes estava atento às novas descobertas científicas ocorridas em todos os ramos do conhecimento. Apesar de ter passado por uma formação escolástica, no colégio jesuíta de La Flèche (França), ele não deixou de apreciar trabalhos de seus contemporâneos: o físico italiano Galileo Galilei (1564-1642), o matemático François Viète (1540-1603) e do fisiologista inglês William Harvey (1578-1657). Também não deixou de tecer, prudentemente, suas críticas ao dogmatismo da igreja. Além disso, ele chegou a ingressar no exército holandês de Maurício de Nassau (1604-1679), a fim de conhecer de perto vários países diferentes, entre 1618-1620.
A principal contribuição de Descartes à ciência talvez tenha ocorrido na matemática, área em que foi o pioneiro no uso de letras do alfabeto para representar as constantes e variáveis, além de empregar pela primeira vez expoentes e o símbolo da radiciação: raiz. O sistema de coordenadas cartesianas permitiu a fusão da geometria com a álgebra, na chamada geometria analítica, proporcionando a localização dos valores das variáveis de uma equação em pontos situados em um plano. O sistema cartesiano foi exposto na sua obra Geometria, escrita em 1637, e ainda hoje é muito utilizado na formação de gráficos analíticos, onde se traça uma curva sobre os pontos marcados por duas coordenadas perpendiculares.
Na Física, Descartes chegou a elaborar, em 1644, uma teoria segundo a qual a Terra estava em repouso em um vórtice que girava em torno do Sol, procurando aliar o geocentrismo da igreja com as idéias de Nicolau Copérnico (1473-1543). Entretanto, em decorrência da censura de Galileu, em 1616, Descartes só autorizou a publicação de seu Tratado do Mundo, após sua morte que veio acontecer em 1650, por causa de uma pneumonia contraída na