Plutarco
UNIVERSIDADE DO PORTO
Auto-Elogio e Inveja na Obra Moral de Plutarco
1 Os Moralia reúnem dissertações retóricas à maneira dos Sofistas, tratados propriamente filosóficos, tratados de moral, pedagogia, política, teologia, física e cosmologia, erudição, crítica literária e histórica, tratados de “psicologia animal”, além de textos de difícil classificação. Os tratados morais, filosóficos e teológicos são dominantes.
Manuel Ramos
AUTO-ELOGIO E INVEJA NA OBRA MORAL DE PLUTARCO
A vasta obra de Plutarco compreende duas partes: aquela pela qual o autor é mais conhecido, as Vidas Paralelas (Vitae), onde quis demonstrar que a um romano ilustre a Grécia podia opor um helénico igualmente ilustre ou ainda superior; outra, mais difícil e menos conhecida, as Obras Morais (Ethica ou Moralia), em que podemos ver o pensamento de um moralista, mas também de um filósofo, psicólogo, teólogo, de um erudito ao corrente do saber do seu tempo. Deveria intitular-se “obras diversas”, por ser obra variegada e enciclopédica, de omni re scibili1. Todavia, pelo facto de a colecção destes tratados, cerca de 80 (já que se colocam problemas de autenticidade de alguns), começar por várias obras morais e ainda por um razoável número deles serem, efectivamente, tratados de argumento ético, o todo foi tomado pela parte e o conjunto recebeu, por sinédoque, o nome impróprio de “obras morais”
(Moralia), designação que se deve a Máximo Planudes.
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1. A OBRA DE PLUTARCO
AUTO-ELOGIO E INVEJA NA OBRA MORAL DE PLUTARCO
Manuel Ramos
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1.1. Os tratados: De invidia et odio e De se ipsum citra invidiam laudando / De laude ipsius
Entre as muitas paixões da alma que Plutarco aborda nos
Moralia, contam-se o par ‘inveja e ódio’ e o ‘auto-elogio sem inveja’2.
A inveja integra as listas de Plutarco sobre as paixões desagradáveis3; a inveja e o ódio, por serem paixões perniciosas e corruptoras da alma humana, são designadas como pathos e diathesis4; o auto-elogio, para não suscitar