Tradição e modernidade na sociedade brasileira
Se o debate sobre a cultura popular e a cultura brasileira apresenta-se como uma tradição entre nós, dada a sua constância no itinerário intelectual nacional que o persegue, de forma sistemática, desde a geração de 1870, o mesmo não se pode dizer em relação à discussão sobre uma "cultura de massa" no país. Ao contrário, sobre esta questão e sobre o relacionamento entre produção cultural e mercado paira, segundo Renato Ortiz, um "relativo silêncio". Relativo é bom frisar, pois circunscrita, até a década de 70, ao âmbito da produção acadêmica, mas não aos órgãos de publicidade, de televisão e aos empresários de bens culturais, para quem estas questões constituem, desde os anos 60, uma preocupação central.
Para entender a origem desse silêncio e para qualificá-lo sociologicamente, Ortiz acredita que não é suficiente apontar apenas para as "causas sociais mais amplas que `retardaram' a reflexão sobre a cultura de mercado entre nós". É preciso, também, compreender a especificidade da discussão sobre a cultura no Brasil. O que é feito por meio de uma dupla perspectiva analítica: o autor reconstrói períodos significativos da história da cultura brasileira, ao mesmo tempo em que busca captar e desvendar as mudanças mais estruturais observadas neste campo.
O resultado é um ensaio inteligente, no qual Ortiz reintroduz o debate sobre a cultura brasileira a partir de novas chaves analíticas. Ao longo do trabalho, que tem como fio condutor a análise da emergência e consolidação da, indústria cultural no Brasil, se entrelaçam, de maneira provocativa, reflexões sobre modernidade e tradição cultural com análises pontuadas sobre processos de modernização.
Valendo-se de referenciais teóricos polêmicos, como a idéia de anterioridade, formulada por Florestan Fernandes para