Trabs p todos
O tema, tirado do Livro do Apocalipse, mostra as almas dos mártires perseguidos clamando a Deus por justiça na terra. A figura de São João domina o quadro; atrás dele as almas nuas se contorcem em um desespero que beira o caos enquanto esperam receber as vestes brancas da salvação.
Assim como em outra tela feita para a mesma igreja, O Concerto dos Anjos, a parte de cima foi cortada, o corte é nítido. Peritos e curadores de arte creem que a parte de baixo, a que hoje conhecemos, mostra o amor profano, enquanto que a do alto, que desapareceu, mostrava o amor divino.
No século 19 a obra pertencia ao Primeiro Ministro Espanhol Antonio Cánovas del Castillo. Aborrecido com o estado da tela, já ruim, ele a enviou a um restaurador. Foi esse artesão quem cortou cerca de 175 centímetros da parte de cima, deixando a figura de São João apontando para o nada. Há quem sustente que a parte cortada mostrava a Abertura do Quinto Selo, dos sete contidos no Livro do Apocalipse.
Historiadores de arte do século 19 deixaram citações e teses sobre El Greco sem levar em conta o ambiente estético, teológico e poético do tempo em que El Greco viveu e, sobretudo, sem procurar compreender as particularidades da Toledo mística de então. Alguns chegaram a dizer que ele era louco, míope, megalômano, bravateiro, que só se preocupava em chocar.
Foi só depois da morte de Cánovas, quando a tela foi vendida a terceiros até chegar às mãos de Ignácio Zuluaga, um pintor espanhol, que o interesse dos grandes centros europeus pela pintura de El Greco foi reavivado.
Zuluaga mostrou a obra a Picasso, a Rainer Maria Rilke, o grande poeta alemão, e a outros intelectuais parisienses que logo perceberam a injustiça sofrida por El Greco, a reputação vilipendiada desde sua morte até o