Christian Carvalho Cruz Quero ser Washington Olivetto Se você fosse o Washington Olivetto não seria um sujeito charmoso. Você vestiria paletó de veludo cotelê branco sobre uma camiseta com o São Jorge e o dragão estampados. Levaria um pente flamengo no bolso. E teria as manhas de sacá-lo na frente dos outros para domar a cabeleira (cada vez mais) branca, (cada vez mais) escassa em cima e (cada vez menos) volumosa atrás. Carregaria seus pertences – celular, carteira, CDs, moedas soltas e a agenda do dia impressa em uma folha de papel reciclado – numa pastinha preta com zíper que só não pode ser chamada de pastinha de office-boy porque é uma Louis Vuitton. Usaria também uns óculos que vou te contar: aros pretos enormes, grossões, escondendo metade do rosto. Aos 58 anos, se fosse o Washington Olivetto, o publicitário mais premiado do Brasil, considerado o cara que pôs a propaganda brasileira na rota do reconhecimento internacional, você pareceria ter saído de um clipe do Roxy Music, só que sem a purpurina. Caminharia com a malemolência de ombros do Bryan Ferry, sabe?, aquele rebolar com a parte de cima do corpo, meio new-wave / meio hip-hop. E, apesar de tudo, se você fosse o Washington Olivetto, que diabos, ia estar assim de gente babando pelo seu... charme. É que você, caso fosse ele, teria um baita charme interior: um treco que aconteceria a toda hora dentro da sua efervescente cabeça e algumas pessoas traduzem por "criatividade" ou "genialidade". Em parte por causa desse negócio de charme interior, que originou campanhas inesquecíveis como a do primeiro sutiã da Valisère, a do garoto Bom Bril, a do Casal Unibanco, a do jeans Staroup e a do cachorrinho da Cofap, a agência americana McCann Erickson iria te propor uma fusão entre as operações dela no País e as da sua W/, fundada em 1986 e que um dia foi parar na boca do Jorge Benjor como W/Brasil. Se fosse o Washington Olivetto você toparia, e aí nasceria a WMcCann, uma coisa boa para ambas as partes, como disseram