Trabalho
Camila Hallack Loures*
Resumo A Ética que rege tanto a teoria quanto a intervenção clínica psicanalítica não busca o estabelecimento de parâmetros determinando o correto ou o ideal, ou seja, não visa a um bem comum estabelecido moralmente. Ao ideal opõe-se o real e este impõe-se ao sujeito. Desta forma, a ética psicanalítica visa focalizar os impasses, a desmedida que vigora na relação do homem com sua ação. Aquilo que é impossível de ser dito, de alguma forma poderá ser mostrado, sob formas de expressões estéticas. A arte é tida como um meio para se abordar o inapreensível. Neste trabalho estarei privilegiando a literatura barroca no Brasil que, assim como a ética psicanalítica, é um campo fecundo de acolhimento do heterogêneo. Há um acolhimento de antíteses sem exclusões e sem sínteses denunciando, assim, a impossibilidade de se fechar com um sentido as aflições do existir humano.
“Mastigas diariamente as palavras
como se elas fossem um bálsamo para a alma.
As palavras te governam e te configuram
Delimitam as fronteiras de tua solidão Os caminhos da eternidade e do adeus. As palavras assinalam o momento de tua morte E te ensinam a abrir a porta onde não existe porta” Francisco Carvalho.
Introdução
Pretendo aqui apresentar aspectos gerais da literatura barroca, principalmente no Brasil, relacionando-a à ética da psicanálise. Meu interesse está em mostrar o barroco não só como um estilo artístico e literário, mas também como uma expressão que perdura em outras épocas e que guarda íntima relação a aspectos presentes na experiência clínica psicanalítica. Num primeiro momento, enveredarei pela literatura barroca no Brasil, no sentido de mostrar as principais características desse tipo de expressão e alguns dos principais representantes da época, bem como a repercussão do estilo