TRABALHO
Para Nietzsche, esses genealogistas procuraram o conceito no lugar errado, pois tal juízo não vem daqueles que fizeram o bem, mas foram os bons (nobres) que se auto-intitularam bons. Foi através do pathos da distância, relação entre uma elevada estirpe senhorial em contraposição a uma estirpe baixa, que os nobres tomaram para si o direito de criar valores, não sendo necessária à utilidade. O pathos da distância refere-se ao “lugar que possibilita criar valores.
O termo “lugar”, utilizado aqui, quer simplesmente referendar a distinção entre uma exterioridade que sofre e uma interioridade que sente e, por isso, produz”
(AZEREDO, 2000, p. 60) [5]. A exterioridade é criada a partir da interioridade [09] através da institui- ção de valores.
[...] o juízo “bom” não provém daqueles aos quais se fez o “bem”! Foram os “bons” mesmos, isto é, os nobres, poderosos, superiores em oposição e pensamento, que sentiram e estabeleceram a si e a seus atos como bons, ou seja, de primeira ordem, em oposição a tudo que era baixo, de pensamento baixo, e vulgar e plebeu.
(NIETZSCHE, 1998, p.19) [06]
Segundo Nietzsche, o direito senhorial vai tão longe que a origem da linguagem poderia ser concebida como expressão de poder dos senhores. Foram os próprios nobres que se auto-intitularam bons, isso pode ser observado na etimologia de “bom” e “ruim”, sendo a etimologia a ferramenta principal para que um genealogista não se perca no azul. O nobre, aristocrático, em seu sentido social, é o conceito básico a partir do qual se desenvolveu “bom”, no sentido de
“espiritualmente nobre”, “bem nascido”, “privilegiado”.
Paralelamente àquele desenvolvimento, o plebeu, comum, baixo, transforma-se em “ruim”. Percebe-se a similaridade do termo alemão schelecht (ruim) e schlicht (simples), assim como schlechtweg e schlechterdings que significam “simplesmente”. Inicialmente o homem simples, comum, era designado apenas em oposição ao