Trabalho Penal 2
Esse é um daqueles exemplares argentinos que marcam a diferença significativa em relação ao cinema brasileiro. Não se trata de juízo de valor, apenas constatação de que, mesmo num (bom) produto comercial como esse, veem-se presentes elementos dificilmente encontráveis em similares nacionais. Em especial um certo substrato, digamos, “intelectual”, sob a forma da discussão de temas como livre-arbítrio e culpabilidade. Assuntos da filosofia jurídica, que passam sem sustos para um público-alvo suposto educado e que, aqui, são evitados como peste. No Brasil, tudo que seja referência livresca é tido como veneno de bilheteria, o que não acontece no país vizinho, no qual o índice de leitura, como se sabe, é bem superior ao nosso. Basta uma visita a Buenos Aires para constatar como, apesar das crises seguidas, a cidade tem tantas livrarias como São Paulo tem farmácias. Ou bares.
Esse é um dado. O outro, que pode também ser um calcanhar de aquiles das próprias qualidades, é a atenção ao aspecto, digamos, “literário” do fazer cinematográfico. Ou seja, ao roteiro, ao texto que deve se sustentar no plano do verossímil para que o filme que bate na tela se mantenha de pé. No caso de Tese Sobre Um Homicídio, seu roteiro parece um tanto superconstruído, o que produz dois efeitos nem tanto coincidentes: a história parece tão solidamente verdadeira que às vezes soa artificial. A vida, se sabe, não é tão