DESUMANO, PURAMENTE DESUMANO José Cláudio Barbosa tinha 39 anos e morreu no dia 22/12/95, na emergência do Miguel Couto, no Rio de Janeiro. Pertencia a uma família humilde da Zona Norte e, desde os 24 anos, apresentava graves problemas psíquicos. Com a ajuda carinhosa da família e com a atenção competente e cuidadosa da equipe que o assistia no Instituto Philippe Pinel, nos últimos anos começou a melhorar. Mas, meses atrás, apresentou queixas de "cansaço nas pernas" e teve início a via-crúcis, conhecida e anunciada, que o levaria à morte. O médico do Pinel, diante da queixa, encaminhou-o a um cardiologista. José Cláudio, psicologicamente frágil, não suportou o mau atendimento e não mais procurou o profissional. Nada mais disse sobre os sintomas ao psiquiatra e só no dia 18/12 veio a reclamar de dores e dificuldades de andar. Havia suspeita de mielite. Começou a busca por um neurologista nos hospitais públicos do Rio. Tudo inútil. No dia 19/12, José Cláudio começou a vomitar, foi hidratado e melhorou. Na quinta, 21/12, estava com as pernas quase totalmente paralisadas e sem defecar e urinar havia mais de 24 horas. Foi levado ao Miguel Couto, onde o chefe do plantão, brincando despreocupadamente com o psiquiatra que dele tratava, apresentou-o a um paciente qualquer do hospital, dizendo: "Olhe aqui, um doutor que sabe do seu caso!" E entre "simpatias", "brincadeiras" e risonhos "vou ver o que faço", nada fez para esclarecer o caso, exceto pedir à estagiária um sumário de sangue e urina. A equipe do Pinel e a família tentaram encontrar um outro hospital onde José Cláudio pudesse ser assistido. Impossível. Tendo de ficar onde estava, começou, então, a inacreditável queda-de-braço da equipe do Pinel com os médicos do Miguel Couto, que se recusavam a levar a sério o quadro clínico do cliente e só tinham uma preocupação: sua medicação psiquiátrica. Por fim, José Cláudio começou a perder os movimentos da mão e, na tarde de 22/12, sem sequer entrar na