O que Darcy Ribeiro nos conta é que no Brasil não existem negros, mulatos, morenos a serem discriminados, mas sim o que ele divertidamente denomina de “ninguenzada”. Mas, note-se, ele não o faz com o uso desse adjetivo, uma declaração racista, como se toda essa gente misturada no Brasil não prestasse para nada e, portanto, sofresse discriminações variadas. O que Darcy Ribeiro teve a intenção de mostrar, foi que no Brasil. como sucede igualmente no resto do mundo com maior ou menor intensidade, o que ocorre não é uma discriminação contra um tipo particular de individuo, dependendo da cor de sua pele ou de seus traços faciais, mas sim, de grupos menos favorecidos pela sorte, seja porque nasceram no interior pobre da Paraíba, porque nunca foram a uma escola, porque os pais eram pobres, por isso ou por aquilo que tenha sucedido independentemente de sua vontade ou de sua sorte. Ele se refere, por exemplo, ao caso das favelas do Rio de Janeiro, onde existe uma grande quantidade de gente pobre e discriminada, e onde seria impossível pretendermos aplicar a palavra racismo, segundo a nossa versão atual. O que existe, afirma-nos Darcy Ribeiro, é que essa gente toda nada mais é senão a grande “ninguenzada” – grande qualificativo! - em que a maior parte é composta de um público, geralmente sem instrução, moreno, variando mais ou menos entre 30 a 70 por cento de pele escura, e, portanto, de “raça” impossível de ser definida como branca ou como preta. A discriminação existente se aplica precisamente por parte daqueles que geralmente têm tudo, contra a “niguenzada” isto é, os que não são ninguém, qualquer que seja sua cor. Essa é a grande diferença claramente observada nos Estados Unidos, que não se aplica a uma “ninguenzada” ,em particular, que não existe no sentido que Darcy Ribeiro deu ao público brasileiro pobre. Disso resulta que confundimos todos, em termos definidos, o chamado racismo americano com aquilo que, equivocadamente, denominamos de racismo