TRABALHO DE ECONOMIA ARIADNE
O município de Comercinho, em Minas Gerais, a 640 quilômetros de Belo Horizonte, tem 8 000 habitantes e 1 400 imóveis registrados para cobrança de imposto predial e territorial. Para reduzir os gastos, o município decidiu entregar neste ano, por conta própria, os carnês do imposto — mesmo sob o risco de ter de brigar com Correios nos tribunais.
A estatal já avisou a prefeitura que a entrega dos boletos fere o monopólio que, por lei, a empresa tem na entrega de cartas. Para os comercienses pareceu despeito. "O carteiro que entrega os carnês é um funcionário da prefeitura, mas que está cedido aos Correios", diz Edinay Ferreira, chefe do departamento de tributos de Comercinho.
"E no ano passado nós só entregamos os carnês das casas que estavam com endereço incompleto. Nós já sabíamos que os Correios iam devolver essas correspondências." O levante de Comercinho desfalcará os Correios em 1 500 reais. É uma ninharia para a estatal, que faturou 13,6 bilhões de reais em 2011. Mas, para a cidade, é uma economia que corresponde a 10% do que a prefeitura arrecada com o IPTU.
O embate entre os Correios e Comercinho não é apenas anedótico. O episódio mostra que ainda há insegurança jurídica nos serviços postais, que movimentam 21 bilhões de reais por ano. No centro dessa zona de sombras está o monopólio da estatal.
O direito de explorar sozinho a entrega de cartas, telegramas e cartões-postais está na Constituição e foi ratificado em 2009 pelo Supremo Tribunal Federal. Mas esse privilégio anacrônico vem sendo cada vez mais questionado. ltaobim, outra cidade mineira, entrou em atrito com os Correios em 2010.
A prefeitura local também achou que seria mais prático — e barato — entregar ela própria seus carnês do IPTU. Os Correios contestaram, e a briga chegou ao STF em março deste ano. O município levou a melhor no seu caso específico, mas o Supremo não entrou no mérito do monopólio. Por isso, a decisão