Trabalho Aninha
AUGUSTO M. SEABRA
2012-02-06
No debate sobre a obra de arte na era da sua reprodutibilidade técnica tem de atender-se a que a própria possibilidade de reprodução e a “aura” da obra não são incompatíveis, como o mostram as serigrafias, os livros de autor ou as edições de colecionador. Todavia estas novas possibilidades implicam um problema diferente, que Walter Benjamin colocara, o de haver um “original”, um “caráter único da obra” e as suas reproduções.
O “museu sem muros” preconizado por Malraux alargou-se exponencialmente e é incomparável o grau de “conhecimento” de obras de arte de que hoje dispomos. Mas não será isso, em termos benjaminianos, a sua “mercantilização”?
Retome-se a premissa de Malraux, de que os museus impuseram uma nova relação com as obras de arte. “Se um álbum consagrado ao Louvre se destina a reproduzir o Louvre, o conjunto das obras consagradas à arte não reproduz um museu que não existe: sugere-o e mais rigorosamente constitui-o. Não é o testemunho ou a recordação de um local, como o álbum consagrado à Catedral de Chartres, à Galeria dos Uffizi ou a Versalhes: cria um lugar imaginário que só por si existe”.
As obras de arte como a Catedral de Chartres, o Pártenon, as “scuole” venezianas com as obras de Tintoretto e Tiziano, etc., etc., são experiências únicas, que nenhuma reprodução, mesmo agora aquelas tridimensionais, permite apreender. Mas há uma aproximação à experiência da arte que é possível por meios técnicos, e nomeadamente pela reprodutibilidade digital.
Tratando-se também de uma questão de perceção, vou dar alguns exemplos da experiência pessoal. Escreveu Malraux da Vitória de Samotrácia que “sem ouro e sem braços, reencontrou a proa, e encontrou o alto da escadaria do Louvre, que domina como um arauto matinal” – e essa monumentalidade reforçada pela sua colocação no espaço é ímpar e irreproduzível, o meu maior ponto de fixação no