Peça
Narrador: A peça passa-se na roça e aborda com humor o jeito particular de ser da gente roceira do Brasil do século XIX, focando as cenas em torno de uma família da roça e do cotidiano de um juiz de paz neste ambiente e explorando uma série de situações em que transbordam a simplicidade e inocência daquelas pessoas. Na comédia, o juiz de paz é um pequeno corrupto que usa a autoridade e inteligência para lidar com (e suportar) a absurda inocência dos roceiros, que lhe trazem os mais cômicos casos. O escrivão aparece como servo mais próximo do juiz e viabiliza suas ordens; no entanto, não é intencionalmente corrupto e chega a surpreender-se com algumas decisões de seu superior. A família de Manoel João (incluindo o negro Agostinho) mais José da Fonseca formam o núcleo mais importante da peça. Os outros personagens são roceiros que servem para apresentar ao juiz de paz as esdrúxulas situações que ele deve resolver.
Cena I:
Sala com uma porta no fundo. No meio uma mesa, junto à qual estarão sentadas cozinhando.
MARIA ROSA - Teu pai hoje tarda muito.
ANINHA - Êle disse que tinha hoje muito que fazer.
MARIA ROSA - Pobre homem! Mata-se com tanto trabalho! É quase meio-dia e ainda não voltou. Desde as quatro horas da manhã que saiu; está só com uma xícara de café.
ANINHA - Meu pai quando principia um trabalho não gosta de o largar, e minha mãe bem sabe que êle tem só a Agostinho.
MARIA ROSA - É verdade. Os meias-caras agora estão tão caros! Quando havia valongo eram mais baratos.
ANINHA - Meu pai disse que quando desmanchar o mandiocal grande há-de comprar uma negrinha para mim.
MARIA ROSA - Também já me disse.
ANINHA - Minha mãe, já preparou a jacuba para meu pai?
MARIA ROSA - É verdade! De que me ia esquecendo! Vai aí fora e traz dous limões. (ANINHA SAI) Se o Manoel João viesse e não achasse a jacuba pronta, tínhamos campanha velha. Do que me tinha esquecido! (ENTRA ANINHA)
ANINHA - Aqui estão os limões.
MARIA ROSA - Fica