tomada de decisão

Os afetos e o capitalismo

Alyson Freire

OS AFETOS E O CAPITALISMO
Alyson Freire

ILLOUZ, Eva. O amor nos tempos do capitalismo. Trad. Vera Ribeiro. Rio de Janeiro:
Zahar, 2011.
“Com efeito, o sistema capitalista penetra muito mais profundamente em nossa existência”.
Michel Foucault, 2002, p. 124-5.

Pode-se supor que sentimentos, emoções e afetos não dizem respeito à sociologia, que eles não integram o campo de problemas e preocupações inerentes a esta disciplina. À sociologia interessaria apenas aqueles fatos sociais cuja existência dar-se-ia “fora das consciências individuais”, como preconizava Emile Durkheim. Nesse sentido, os fenômenos da vida afetiva tratar-se-iam de temas estrangeiros, residuais, menores ou mesmo “nãosociológicos”.
Para Eva Illouz, autora do livro em questão nesta resenha, essa visão caricata que alimenta a opinião corrente sobre a sociologia é enganosa. A socióloga marroquina, logo na abertura de O Amor nos tempos do Capitalismo (2011) justifica seu projeto de uma sociologia dos afetos na constatação das “numerosas referências” aos sentimentos e afetos presentes nas narrativas e relatos clássicos da disciplina sobre a modernidade e o advento do capitalismo industrial: a alienação do trabalho capitalista como perda do vínculo com a realidade, em
Marx; os sentimentos religiosos de angústia e dúvida dos protestantes como motivação da ação econômica capitalista, em Weber; a estimulação frenética da vida nervosa e as atitudes blasé do indivíduo nas metrópoles modernas, em Simmel e, por último, a solidariedade social e a efervescência coletiva em Durkheim (ILLOUZ, 2011, p. 7-8).
Se avançarmos no espectro do tempo da produção sociológica, encontraremos mais exemplos de referências a respeito das emoções na sociologia: Norbert Elias (1994; 2001),
Anthony Giddens (1994), Niklas Luhmann (1991) e Viviane Zelizer (2011), só pra citar nomes e trabalhos bem conhecidos em geral.
Convidada a ministrar as prestigiadas