Texto livre
Quando o diretor me disse que eu teria que fazer aquela cena completamente nu, a minha primeira reação foi dizer:
- Não! O quê? Eu, ficar nu na frente daquele monte de gente e agindo como se estivesse vestindo um smoking em uma festa de gala? Nunca!
Mas ele insistiu de todas as formas. Tentou me lembrar do meu compromisso como ator. Explicou que meu corpo é apenas o meu instrumento de trabalho; jurou que as cenas seriam editadas para que os ângulos “menos nobres” não aparecessem. Fez de tudo. Argumentou de todas as formas, mas eu disse:
-Não!
Cansado de tanto me cantar para que eu tirasse minhas roupas e me mostrasse como vim ao mundo, ele usou dois argumentos definitivos:
- Se você não fizer, perde o papel. Agora... se fizer exatamente do jeito que tem que ser, eu garanto que consigo duplicar o seu cachê.
Diante dos melhores argumentos do mundo, eu me senti tentado. Mais tentado ainda eu fiquei quando lembrei das minhas contas: água, luz, telefone. Aliás, quando a conta do celular me veio à mente, me senti com coragem suficiente para desfilar, nu em pêlo, no salão do Theatro Muncipal carioca, em noite de gala e ainda dar adeuzinhos simpáticos para quem cruzasse meu caminho.
Pensei na cara da minha mãe assistindo a cena. A cara do meu pai, meus irmãos e amigos. Mas, ora! Deus deu um par de nádegas a cada um. Duas nádegas já dão trabalho suficiente a um ser humano para que ele se mantenha ocupado demais para prestar atenção ao meu lombo ou julgar o que eu faço com ele.
A certa altura dos meus pensamentos eu já estava tão convencido que nem percebi direito quando disse:
- Sim! Eu faço.
Acho que só voltei à realidade quando já estava vestindo as roupas, depois de deixar as câmeras registrarem meu “material de trabalho” sem nenhuma cobertura, vestido somente de minha pele.
Assistindo à cena depois, até que gostei da minha atuação. Convincente, segura e natural. Tudo resultado de bons argumentos.
Dá próxima vez vou negociar um cachê mais