F Rias Texto Cio E Tempo Livre
Por Lusa Silvestre Minhas férias mudaram da adolescência pra cá. Algumas coisas melhoraram, hoje dá pra planejar uma coisa mais invocada, de repente até subir em um avião, ir pra uma praia mais deserta, quem sabe? Reflexos, claro, de uma vida melhor remunerada. Mas, mesmo com todas estas aparentes melhorias, sinto saudades das férias de quando eu tinha 16 anos. Tudo que é da adolescência carrega saudades, começando – no meu caso – pela saudades dos cabelos. Naqueles anos, eu entrava em férias com uma grande (enorme!) expectativa. Que era não fazer nada. Nada. Se atualmente eu viajo pra algum lugar, pronto: eu tenho que ir em museus, tenho que ir ver isso e aquilo, tenho que ir à parques e shoppings, enfim: muita agenda pra um período que, teoricamente, é justamente para esquecer a agenda. Férias assim têm muita responsabilidade, parece que buscam uma utilidade que não combina com o ato do descanso. Se nos dias de hoje eu fico uma tarde em frente à televisão, por exemplo, já me acho perdendo tempo, desperdiçando segundos, jogando dias malbaratados pela janela. Na adolescência, não: ficar de ócio na frente da televisão - comendo Doritos e brigadeiro de colher - era o máximo da vagabundagem e da gastronomia. E por isso, férias perfeitas. Férias de qualidade. Me bastavam. Era uma delícia inutilizar uma noite lendo Asterix, vendo TV e jogando Atari até as quatro da manhã. Sinto falta de desprezar uma manhã de sol porque está mais gostoso ficar na cama fresquinha. Dá saudades de ir na casa de amigo ou amiga para tentar entender a obra grandiosa do Oswaldo Montenegro (sim, eu ouvia, e daí ? Hein ? Hein ?). Meu metabolismo hoje lagártico me impede de vasculhar a geladeira como nas férias de adolescente, quando empanturrava de Leite Moça como se não houvesses calorias no mundo. Férias ambiciosas, nobres, superiores, onde eu pretendia não ir a museus, não ver exposições e nem redimensionar minha vida no futuro. Nessa fase da vida onde me encontro,