texto jose eli da veiga
NEM
TUDO É URBANO
José Eli da Veiga
erá apropriado afirmar que “tudo é urbano”? Foi o que se ouviu em diversas sessões do último encontro anual da Associação Nacional de Planejamento Urbano e Regional (Anpur), realizado em
Belo Horizonte em maio de 2003. As mudanças semânticas do debate público sempre revelam um sentimento coletivo de que noções utilizadas até determinado momento não mais dão conta da percepção que se tem dos problemas enfrentados, nem exprimem direito o que se gostaria ou pretenderia fazer em seguida. Ou seja, são mudanças que refletem as hesitações intrínsecas ao enunciado de novos projetos sociais, e, por isso mesmo, as novas noções em torno das quais se organiza o debate público costumam ser sempre muito imprecisas, fluidas e ambíguas. Há quem acredite que o processo de urbanização seja tão poderoso que a histórica contradição urbano-rural esteja fadada a desaparecer. E a peculiaridade da definição brasileira de cidade só ajuda a reforçar essa suposição. Por isso, este artigo tem duas partes desiguais. Na maior, a questão é abordada no âmbito global. Depois, são apresentadas algumas considerações mais sintéticas sobre o caso brasileiro.
S
OS GRAUS DE URBANIZAÇÃO NO CAPITALISMO AVANÇADO Há três tipos de países desenvolvidos sob o prisma da diferenciação espacial entre áreas urbanas e rurais. Primeiro, um pequeno grupo fortemente urbanizado, que reúne Holanda, Bélgica, Reino Unido e Alemanha, no qual as regiões essencialmente urbanas ocupam mais de 30% do território e as regiões essencialmente rurais menos de 20%, sendo que as intermediárias variam entre 30% e 50%.(1) No extremo oposto há um grupo maior, formado por quatro países do “Novo Mundo” - Austrália, Canadá, Estados
Unidos e Nova Zelândia - mas do qual também fazem parte três nações muito antigas: Irlanda, Suécia e Noruega. Nesse grupo as regiões essencialmente rurais cobrem mais de 70% do território e as relativamente rurais têm porções inferiores