Terra Patria
Edgar Morin e Anne Briitte Kern – Editora Sulina
A crise universal do futuro
A Europa havia espalhado a fé no progresso pelo planeta inteiro. As sociedades, arrancadas de suas tradições, iluminavam seu devir não mais seguindo a lição do passado, mas indo em direção a um futuro promissor e prometido. O tempo era um movimento ascensional. O progresso era identificado com a própria marcha da história humana e impulsionado pelos desenvolvimentos da ciência, da técnica, da razão. A perda da relação com o passado era substituída, compensada pelo ganho da marcha para o futuro. A fé moderna no desenvolvimento, no progresso, no futuro havia se espalhado pela
Terra inteira. Essa fé constituía o fundamento comum à ideologia democrático-capitalista ocidental, na qual o progresso prometia bens e bem-estar terrestres, e à ideologia comunista, religião de salvação terrestre, que chegava a prometer o "paraíso socialista". O progresso esteve em crise por duas vezes na primeira metade do século, na manifestação bárbara das duas guerras mundiais que opuseram e fizeram regredir as nações mais avançadas. Mas a religião do progresso encontrou o antídoto que exaltou sua fé exatamente onde deveria ter desmoronado. Os horrores das duas guerras foram considerados como as reações de antigas barbáries, e até mesmo como anúncios apocalípticos de tempos bem-aventurados. Para os revolucionários, esses horrores provinham das convulsões do capitalismo e do imperialismo, e de modo nenhum colocavam em questão a promessa do progresso. Para os evolucionistas, essas guerras eram guinadas que não faziam senão suspender por algum tempo a marcha para a frente.
Depois, quando o nazismo e o comunismo stalinista se impuseram, suas características bárbaras foram mascaradas por suas promessas "socialistas" de prosperidade e felicidade.
O pós-guerra de 1945 assiste ao renovar das grandes esperanças progressistas. Um excelente porvir é restaurado, seja na idéia