Terra patria - capitulo ii
Por mais diversas que sejam suas pertenças de genes, de solos, de comunidades, de ritos, de mitos e de idéias, o Homo sapiens tem uma identidade fundamental comum a todos os seus representantes. Quer tenha se originado ou não de um antepassado único, ele pertence a uma unidade genética de espécie que torna a inter-fecundação possível entre homens e mulheres, todos eles, não importa sua raça. Essa unidade genética, hoje comprovada, prolonga-se em unidade morfológica, anatômica, fisiológica; a unidade cerebral do Homo sapiens sé manifesta na organização singular de seu cérebro em relação aos outros primatas; há enfim uma unidade psicológica e afetiva: é verdade que sorrisos, lágrimas, gargalhadas são diversamente modulados, inibidos ou exibidos segundo as culturas, mais, a despeito da extrema diversidade dessas
A carteira de identidade terrestre | 57
culturas e dos modelos de personalidade que nelas se impõem, soitísos, lágrimas e gargalhadas são universais e seu caráter inato se manifesta em surdos-mudos-cegos de nascença que sorriem, choram e riem sem ter podido imitar a ninguém.13
A diáspora do Moino sapiens, iniciada há 130 mil anos, espalhou-se pela África e a Eurásia, atravessou a seco o estreito de Behring há cem mil anos, chegou à Austrália e à Nova Guiné há quarenta mil anos, e finalmente povoou as ilhas da Polinésia há alguns milhares de anos antes da nossa era. A despeito dessa diáspora, a despeito das diferenças físicas de tamanho, cor, forma dos olhos, do nariz, a despeito das diferenças de culturas e de linguagens tornadas ininteligíveis umas às outras, de ritos e costumes tornados incompreensíveis uns aos outros, de crenças singulares tornadas irredutíveis umas às outras, por toda parte houve mito, por toda parte houve racionalidade, por toda parte houve estratégia e invenção, por toda parte houve dança, ritmo e música, por toda parte houve - certamente expressos ou inibidos de maneira desigual conforme as