"Teoria do sacrifício", suas implicações e outras possibilidades de intepretação
Natanael Barbosa de Sousa Junior
A morte de Jesus foi um evento traumático para os primeiros cristãos. A vida do seu tão formidável Mestre acabara de maneira terrível. Era preciso encontrar um sentido para esse acontecimento, algo que renovasse a fé dos discípulos. Em meio a esse momento de crise dá-se a chamada “experiência pascal”, ela renova o grupo dos Doze – a morte de Jesus, afinal, não teve um fim em si mesma.
A compreensão do significado da morte de Jesus ocorre paulatinamente dentro das primeiras comunidades cristãs e, conseqüentemente, ela foi entendida de forma diversificada por grupos distintos. Para Comblin a teoria que predominou e predomina já há quase dois mil anos, tanto no imaginário popular quanto na teologia cristã oficial, é a chamada “teoria do sacrifício”[1].
Nessa teoria Jesus é identificado como uma vítima propiciatória. Com a sua morte ele aplaca a ira de Deus e reconcilia o ser humano pecador com o divino. A morte de Jesus, portanto, faz sentido porque já estava prescrita nos planos de Deus. Jesus teria nascido justamente para morrer como vítima sacrifical. A centralidade dessa hermenêutica do sacrifício na tradição cristã fez com que o sofrimento fosse entendido como um meio de salvação.
A teoria do sacrifício ganhou força rapidamente porque os primeiros cristãos eram judeus, estando, portanto, impregnados com os conceitos veterotestamentários de sacrifício. Esses conceitos eram reforçados no pensamento da Igreja pelos primeiros discípulos provenientes do paganismo que também estavam impregnadas com a ideologia do sacrifício.
O mito de Ifigênia é um bom exemplo de como o ideário sacrifical impregnava não só o universo semita, mas também o grego. Hinkelammert o descreve da seguinte forma:
Ifigênia é filha de Agamemnão, rei grego, e de sua esposa Clitemnestra. Agamemnão é comandante do