Sáude e doença em moçambique
Nas sociedades tradicionais as crenças sobre a saúde e a doença estão ligadas as noções de religião, pureza e pecado. Os conceitos médicos dirigiam-se à saúde da alma e não à do corpo. O que dá significado e estrutura o mundo é a divisão entre aceitável e inaceitável ou seja, as pessoas adoecem porque transgridem as normas ou tabus que separam o sagrado do profano. O tratamento da doença fica a cargo do padre ou feiticeiro: a doença deve-se ao pecado da humanidade e é um meio de sofrimento para atingir a salvação.
O processo de modernização colocou a doença noutro paradigma, em que esta se encontra no corpo humano independentemente da religião do individuo. A revolução científica afirmou a medicina mas também reforçou a transição epidemiológica que é responsável pelas doenças degenerativas que afligem a sociedade. É na sequência deste sucesso que a visão médica se vem confrontar com a componente social e normativa implicada na doença:
--ao nível individual, já que as doenças crónicas são grandes devedoras das práticas dos indivíduos.
--ao nível societal porque a protecção do ambiente se revela como uma grande determinante da saúde das populações.
1.1 O tempo das epidemias
Segundo Herzlich e Pierret os estados de sofrimento e mal-estar não constituíam uma unidade. As enfermidades afectavam as pessoas, que se procuravam tratar mas esses males não estavam unificados como estão hoje. Não há uma imagem estruturada de “a doença”, não tinha um estatuto social reconhecido (está doente) e dependente da medicina.
Para o aparecimento do que hoje chamamos doente foram necessárias 3 condições:
1-Foi necessário que a doença deixasse de ser um fenómeno de massas.
2-Foi necessário que a morte deixasse de ser inevitável em caso de doença.
3-Foi necessário que a diversidade dos sofrimentos fosse reduzida pelo olhar uniformizado da medicina. Da diversidade dos males do corpo nasce uma condição e uma identidade comuns: o doente.
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