Sonhos em uma terra distante, porém nem tão diferente
M., chileno de Santiago com pouco mais de 30 anos, sempre no começo do dia bastante comunicativo, no final fechado em seus próprios pensamentos com um olhar carrancudo, veio para cá com sua namorada alguns anos mais jovem e uma filha com 8 meses tentar a vida. Após algumas semanas de trabalho e conversas filosóficas sobre o mundo, disse-me que permaneceria por aqui juntando dinheiro até que tivesse o suficiente para voltar a seu país e comprar um canto para si, onde poderia viver em paz, dos frutos da terra. Não tenho certeza se me disse isso para me agradar, após ter ouvido minhas opiniões a respeito do mundo, ou se realmente tem este objetivo. De qualquer forma, um dia me alcançou sua libreta (espécie de cartão usado nos caixas automáticos na Espanha, na qual o saldo e as movimentações são sempre impressas) e pediu-me que depositasse o pagamento na sua conta enquanto conversava com o chefe; neste momento pude constatar que realmente estava juntando dinheiro, a bastante tempo. Também me lembro de uma de suas frases: “vivemos en los tiempos de la pasta (grana)”.