batata
Rabino Nilton Bonder
Escrevo esta carta com um senso de responsabilidade. Tenho perto de três décadas de serviço à comunidade judaica brasileira e acredito ser o rabino mais sênior em tempo de serviço ainda na ativa. Sou sem dúvida o mais sênior dos rabinos natos brasileiros ininterruptamente nesta função.
Escrevo porque tempos muito desafiadores se apresentam à identidade judaica. Não são questões novas, mas como a um contabilista de patrimônio cabe alertar para o dilapidar de recursos, venho inquietar sobre um importante acervo ameaçado. O senso de urgência não tem a ver com tomada de decisões específicas, mas com o desenvolvimento de uma nova consciência que ajude nas escolhas e na adoção de novos padrões que demandam nosso tempo.
Gênese
O Judaísmo não é uma religião.
O patrimônio coletivo dos judeus não é uma religião.
Nas origens o Judaísmo não apresenta ideias de salvação ou iluminação pessoal. Abraão é um visionário de um novo senso coletivo para “suas sementes numerosas” e que parte em busca de uma nova terra. Essa terra não tem características de um território ou de um estado, visto que não há descrição ou demarcação do mesmo – é apenas uma terra que será
“mostrada”. O significado maior deste “chão” é uma nova plataforma, uma nova forma de vínculo. Neste novo solo a solidariedade e a integridade produziria uma relação inédita entre indivíduos distanciando-os do fratricídio (Caim/ Abel), do egotismo (Babel e a língua particular) e da crueldade (geração de Noé). Deus não é protagonista em Gênese, não no sentido de uma religião fundada. A temática não é teológica, mas em torno da capacidade humana de se organizar diante das tensões da família e da tribo. O norte não é a conquista
1
dessa terra, mas de como crescer em direção a ela. A identidade se faz por vínculo e não por crença. Surge o pilar principal do Judaísmo, Klal Israel, o coletivo de Israel.
O senso grupal que até hoje melhor define os judeus é a