Soneto
Na lírica camoniana coexistem a poética tradicional, herdada da poesia trovadoresca e do Cancioneiro Geral, e o estilo renascentista, introduzido em Portugal por Sá de Miranda. Relativamente à poesia da medida velha ou corrente tradicional, poder-se-á referir que as formas predominantes são as redondilhas e as composições poéticas o vilancete e a cantiga. Ao nível do conteúdo, encontram-se temas tradicionais e populares: a menina que vai à fonte; o verde dos campos e dos olhos; o amor simples e natural, a saudade e o sofrimento; a dor e a mágoa; a exaltação da beleza de uma mulher de condição servil, de olhos pretos e tez morena; o amor platónico. Algumas das composições poéticas que sustentam as afirmações enunciadas são “Descalça vai para a fonte”, “Se Helena apartar”, “Aquela cativa”, entre outras. No que diz respeito à poesia da medida nova ou corrente renascentista, poder-se-á aludir ao fato de a forma predominante ser o verso decas silábico e a composição poética, o soneto. Ao nível do conteúdo, encontram-se variados temas ligados não só ao amor e à mulher, como também à mudança e ao desconcerto do mundo. Considerando a temática do amor, dever-se-á sublinhar que esta surge quase sempre associada à da mulher; o amor segue um ideal platônico e petrarquista, é o amor sensível e espiritual, mas, por vezes, com a tortura do desejo (aqui Camões afasta-se de Petrarca); a mulher é ausente e surge divinizada e inacessível, dona de uma beleza estereotipada, de onde sobressaem os cabelos de ouro; o olhar indefinido, mas doce; o gesto suave; o sorriso honesto, doce e