Soneto à Lua, Augusto Frederico Schmidt - Análise
Tão frágil e tão pálida vens vindo,
Que pareces, ó doce Lua amiga,
Vir impedida pelo cento leve. Pelo vento gentil que está soprando
Tu pareces tangida, como um barco
Com suas louras velas enfunadas,
E vens a navegar nos altos mares... Atravessando campos e cidades,
Quantas artes e sortes não fizeste,
Ó triste Lua dos enamorados! Quantas flores e virgens distraídas
Não seduziste para a estranha viagem
Por esse mar de amor, cheio de abismos! (Augusto Frederico Schmidt, Eu Te Direi as Grandes Palavras,
2ª ed., p. 74, Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro, 1977)
Análise
Soneto à Lua, Augusto Frederico Schmidt
Augusto Frederico Schmidt, conhecido por sua poética da morte, foi reconhecido como o marco da segunda geração do modernismo no Brasil. Schmidt destaca-se tanto pela exploração maciça de temas metafísicos, principalmente o da morte, quanto pela marcante orientação religiosa de seus versos. No Soneto à Lua, nota-se um tom declamatório, beirando o profético, com um ritmo por vezes lento e envolvente. Junta-se a isso o tom confessional, repleto de sentimentalismo. Schmidt utiliza, repetidamente, imagens da tradição lírica como o mar, a noite, o vento, o campo, a flor, a lua, entre outros elementos naturais, como recurso poético para tratar de questões universais e complexas do ser humano, como a solidão, o amor, a angústia, o mistério ou a iminência da morte. A Lua aparece em seu soneto como a vida que se esvai, cansada e derrotada após lutar incansavelmente pela sobrevivência. É frágil e ao mesmo tempo doce e amiga. Entretanto, mostra-se viva pela vontade da vida. Inerte e sem forças contra o destino que o vento sopra - ora bom, ora mau. Ao tentar penetrar o mistério da morte não se coloca de forma ordenada e objetiva, não segue um percurso evolutivo, pois lembra-se de que a vida lhe fora gentil em certos momentos, dando a entender que houve momentos de felicidade