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ANTOLOGIA POÉTICA
´ ANALISE DA OBRA FERNANDO MARCÍLIO LOPES COUTO
INTRODUÇÃO Um poeta campeão de audiência
Imagine-se um ginásio de esportes com sua quadra e suas arquibancadas tomadas por jovens. Não estão ali para torcer por nenhum time. É noite, e eles assistem a um espetáculo musical. Envoltos pela escuridão, são atraídos pelo único foco de luz do ambiente: um homem, quase solitário em um palco, lê poesias. O público ouve em silêncio. Essa cena, que hoje pode nos parecer pouco verossímil, acontecia de fato na década de 1970. Mas há uma informação fundamental para que ela não seja apenas imaginária: o solitário leitor é o poeta Vinicius de Moraes. Sua ligação com o mundo dos espetáculos não era recente. No final dos anos 1950, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto, participara da criação da Bossa Nova, movimento musical de grande importância para a história da canção brasileira. Desde os princípios da década de 1960, suas letras tinham feito parte da trilha sonora da vida brasileira, veiculadas por emissoras de rádio e televisão. Embora os jovens da época o associassem, acima de tudo, à composição musical, Vinicius jamais renegara a poesia, razão pela qual o vemos naquele ginásio dos anos 1970, lendo seus versos para um público silencioso e fazendo-se acompanhar, por vezes, pelos acordes do violão de Toquinho, seu parceiro mais constante no período. A leitura harmonizava perfeitamente com a melodia do violão — até porque quem lia era alguém que um dia escreveu: “eu creio na música das palavras”. Passados trinta anos de sua morte, ainda hoje é possível ler Vinicius de Moraes como quem assiste a um espetáculo musical. Basta se deixar levar pela música de sua poesia. Façamos silêncio.
Marcus VINICIUS da Cruz DE Mello MORAES (Rio de Janeiro, 1913-1980)
O cronista carioca Sérgio Porto usou o humor para registrar um dos traços mais marcantes da personalidade do poeta: segundo ele, o poeta jamais poderia ter sido batizado no singular —