Sodomia
Aline Gonçalves Santos
RESUMO: No século XVI os saberes misóginos estavam a serviço do Tribunal do Santo Ofício, não se sabia ao certo como se dava o pecado de sodomia foeminarum e as discussões acerca da criminalização ou não desse delito acabam despertando dúvidas ao Tribunal Inquisitorial na hora de julgar o crime nefando praticado por mulheres. Nesse contexto, em 1591, quando da primeira visitação do Santo Ofício ao Brasil, o caso de Francisca Luis e Izabel Antônia era trazido à luz perante a mesa do visitador Heitor Furtado de Mendonça. Os valores misóginos de época trazidos por ele influiriam diretamente no julgamento desse caso.
ABSTRACT:
PALAVRAS-CHAVE: Mulher; sodomia; homoerotismo; inquisição; misoginia.
Introdução
Quando, em idos de 1580, Isabel Antônia e Francisca Luis mantinham seu caso conturbado e polêmico, não podiam imaginar as duas, que anos mais tarde sua história de amor, fora do comum, seria trazida à mesa de Heitor Furtado de Mendonça, primeiro visitador a trazer a moralidade e as penas seculares e eclesiásticas do Santo Ofício lisboeta para à tão pecaminosa colônia portuguesa.
Um caso deveras estrondoso, que levou Isabel da Fonsequa, a denunciar perante o visitador a relação nefanda dessas duas mulheres, que segundo relatos da própria Francisca, já era um amor antigo, vindo de Portugal ainda e que aqui no Brasil encontrou, de certa, forma, liberdade de se manifestar, mas também escândalos, violência e um final nada romântico para essas duas amantes de Lesbos.
A sexualidade na colônia já é um assunto bastante discutido dentro da historiografia brasileira, vide Gilberto Freyre e seu livro Casa Grande e Senzala, livro que serve de base para diversos estudos acerca do assunto, contudo, no tocante à sodomia feminina, os estudos são, em tese, escassos, pois quando se discute sodomia no Brasil quinhentista, foca-se muito nos somíticos do sexo masculinos, claro que existe explicação, pois diferentemente dos