Sociologia e saúde
Paulo Henrique Martins e Breno Fontes - UFPE
A relação entre a sociologia e os estudos sobre a saúde afirma-se a partir de caminhos cruzados: um deles nasce no campo sociológico, revelando a importância de se compreender a saúde como um fenômeno social, isto é, um fato resultante das interações humanas, produto da vida em sociedade como o são igualmente outros acontecimentos: educação, família, religião, política, economia e lazer. Classicamente, os estudos sociológicos sobre saúde estão mais centrados nas práticas médicas, nas relações entre médico e paciente (como o provam estudos sociológicos clássicos sobre o assunto : aqueles conduzidos por autores como T. Parsons, E. Goffman e outros norte-americanos entre os anos cinqüenta e sessenta do século passado). Tal preferência explica-se pela importância dada à medicina de caráter assistencial-curativo, a clínica médica, no campo da saúde, nos últimos dois séculos, em detrimento de uma compreensão mais ampla dos sistemas de cura e dos modelos de gestão na saúde (Martins, 2003).
Desde os anos setenta, porém, estudos vêm sendo realizados no intuito de explorar as implicações sociológicas de aspectos da saúde que extrapolam a dimensão assistencial-curativa. Temos, aqui, então, outro caminho que se afirma não a partir do campo sociológico acadêmico, mas dos campos da antropologia médica e de disciplinas das ciências da saúde, como a epidemiologia, a medicina social e a clínica do social. A articulação entre saúde e sociedade torna-se possível no momento em que se passa a questionar a definição de doença como fator meramente biológico, resgatando-se o lugar da doença na experiência humana, como o fez a antropologia médica (Rabelo, Alves e Souza, 1999). Com certo atraso, a sociologia vai integrando esses procedimentos de desconstrução da idéia biologizante da doença, passando a incorporar o saber sociológico na explicação de impactos sobre a cidadania provocados pelos