Os conceitos de doença e saúde têm vindo a sofrer modificações ao longo do tempo nas sociedades tradicionais. As crenças sobre a saúde e a doença estavam implicadas nas noções de religião, ou seja, os conceitos médicos dirigiam-se à saúde da alma e não do corpo. Assim, o tratamento era da competência de uma entidade divina como, por exemplo, o padre, e não por uma pessoa especializada para tal. O processo de modernização permitiu que a doença fosse vista como algo específico no corpo humano independentemente do estatuto religioso do individuo. A evolução da sociedade e do conceito médico permitiu o avanço da visão em relação à doença, fazendo com que esta deixasse de ser vista como uma forma de morte, mas também como uma forma de vida. O doente conquista um estatuto específico, isto é, define-se por um modo de vida e por um lugar na sociedade. Atualmente, a doença é medicalizada no sentido em que estar doente passa a ser sinónimo de recorrer à medicina para encontrar a cura. Estar doente é então submeter-se às regras da medicina, obedecer às suas prescrições e respeitar as suas indicações. Ser doente na sociedade atual deixou de ser apenas um estado puramente biológico, para passar a pertencer a um grupo; “ser doente” passa a constituir uma das categorias centrais da perceção social. Esta perceção é cada vez mais importante, uma vez que as doenças atuais mais frequentes são as doenças crónicas. A saúde é assim entendida como a capacidade de desempenhar papéis sociais e por sua vez, a doença é um desvio involuntário dessa competência social de integração no sistema. O doente tem que desejar curar-se e cooperar com a sociedade, tendo um papel fundamental na sua cura, juntamente com o médico. É neste sentido que a etiologia quer da doença, quer da saúde, não é um fator apenas biológico, mas sim social que deve ser objeto de estudo devido à influência por eles criada.
A Medicalização da sociedade tem vindo a evoluir ao longo do
tempo