Sociedade Global do Risco
Em um texto escrito em 1986 sobre o livro (e a ideia de) "Sociedade de risco", que estava sendo lançado na Alemanha, o sociólogo germânico Ulrich Beck evocava o acidente nuclear de Chernobyl, então recentemente ocorrido (em 26 de abril daquele ano) na usina na ainda União Soviética, hoje Ucrânia. Se estivesse escrevendo em 1999, talvez falasse do bug do milênio. Hoje, usaria, digamos o aquecimento global (como faria, aliás, em World at Risk, lançado em 2007). Em todos os casos, trata-se de um emblema: o risco se tornou, quase 25 anos atrás ele constatava, uma ameaça ubíqua. Viver em risco é o que fazemos. Todos.
Agora, em que está finalmente sendo publicado no Brasil (pela 34) "Risikogesellschaft", com o mesmo subtítulo “rumo a uma outra modernidade” do original (e com o texto sobre Chernobyl), é difícil imaginar a vida no nosso tempo sem o risco. Ouvimos falar de “risco-país”, de “taxa de risco” de empréstimos, de “grupo” ou “comportamento” de risco em relação a doenças. Mas a imagem do acidente atômico não deve conduzir a interpretações apocalípticas: risco não é simplesmente medo. Não é um puro sinônimo de ameaça. O risco ao qual Beck se refere é o perigo associado a um componente decisório: risco é algo que se corre. É o perigo inerente a alguma coisa que se decide enfrentar. É uma probabilidade. E o reconhecimento de sua onipresença é a constatação de uma normalidade: o risco se tornou não o momento de estranhamento (como o medo do desemprego no século XIX), mas o elemento central, a rotina, da vida na, para ele, “sociedade industrial de risco”.
A tese, embora seja apresentada com um elegante arcabouço teórico (que aproxima o livro mais dos estudos de sociologia econômica do que dos de dimensões propriamente humanas ou dos da vida social em sentido amplo), é relativamente simples: é consenso nas ciências sociais que o mundo ocidental sofreu uma guinada consistente ao passar da