A teoria da sociedade de risco de ulrich beck: entre o diagnóstico e a profêcia
AGRICULTURA, N.16, abril 2001: pp95-112
ESTUDOS
SOCIEDADE
E
______________________________________________________________________
A teoria da sociedade de risco de Ulrich Beck: entre o diagnóstico e a profêcia*
Julia S. Guivant
Introdução
Ulrich Beck passou a ser um dos teóricos sociais mais destacados do presente depois da publicação de Risk Society (em alemão em 1986 e em inglês em 1992).1 O argumento central desse livro é que a sociedade industrial, caracterizada pela produção e
distribuição de bens, foi desplazada pela sociedade de risco, na qual a distribuição dos riscos não corresponde às diferenças sociais, econômicas e geográficas da típica primeira modernidade. O desenvolvimento da ciência e da técnica não poderiam mais dar conta da predição e controle dos riscos que contribuíram decisivamente a criar e que geram conseqüências de alta gravidade para a saúde humana e para o meio ambiente, desconhecidas a longo prazo e que, quando descobertas, tendem a ser irreversíveis.
Entre esses riscos, Beck inclui os riscos ecológicos, químicos, nucleares e genéticos, produzidos industrialmente,
externalizados
economicamente,
individualizados
juridicamente, legitimados cientificamente e minimizados politicamente. Mais recentemente, incorporou também os riscos econômicos, como as quedas nos mercados financeiros internacionais. Este conjunto de riscos geraria uma “nova forma de capitalismo, uma nova forma de economia, uma nova forma de ordem global, uma nova forma de sociedade e uma nova forma de vida pessoal” (Beck, 1999: 2-7).
O conceito de sociedade de risco se cruza diretamente com o de globalização: os riscos são democráticos, afetando nações e classes sociais sem respeitar fronteiras de nenhum
*
Uma versão mais extensa deste trabalho foi apresentada no Symposium “Sociological Reflections on
Sustainability”, IRSA, Rio de Janeiro, agosto 2000.
1
A ampla influência das idéias de