Sobre “o ensino da filosofia e suas diretrizes” de jean maugüe.
O artigo de Maugüe se propõe a uma tarefa específica: como “ensinar” filosofia no Brasil? Para resolver essa empreitada, no entanto, ele mobiliza uma questão universal: “O que é a filosofia?”.
Em certo sentido, como mostra Paulo Arantes, as bases que Maugüe propõe para o ensino de filosofia no Brasil seriam as mesmas se ele estivesse escrevendo na França, por exemplo. E nem poderia ser diferente, na medida em que sua proposta encontra suporte em sua visão do que seja a filosofia. E, no entanto, seu artigo pretende resolver os entraves específicos que o ensino de filosofia encontra no Brasil.
Esse comentário tentará refazer brevemente os passos centrais da argumentação de Maugüe e esboçar uma curta observação sobre o modo como a resposta abrangente fornecida por ele é particularmente conveniente para o caso brasileiro.
I
Maugüe inicia seu artigo com a fórmula paradoxal kantiana: ”A filosofia não se ensina, ensina-se a filosofar”. Estaria aqui, segundo ele, o resumo das condições do ensino de filosofia na FFCL. Evidentemente, Maugüe não se detém no resumo. O hábito de professor o impele a justificar a fórmula e a explicitar as suas consequências. A primeira parte do seu artigo se ocupará basicamente com esse trabalho de justificação e o fará por meio de uma tentativa de resposta à pergunta: “O que é a filosofia?”
A filosofia é atividade de síntese. Para Maugüe, se as ciências particulares se ocupam de um trabalho de análise - de separar, no estudo da natureza, as partes do todo -, a filosofia é precisamente o esforço de reunir os esforços particulares e dispersos das ciências, de encontrar a sua origem comum. Essa comunhão pressuposta por Maugüe se basearia, por sua vez, no fato de que todas atividades humanas “testemunham, com pureza maior ou menor, a mesma energia”. Isso que permanece idêntico em todos os domínios não é outra coisa senão a “Inteligência, [o] Espírito, ou mesmo, o Inominado.” A