Sobre Sonatas e Interludios Cage
Mariana P. L. Torres de Carvalho
A peça, escrita em 1946-48, soa para mim como uma busca constante, que se desenvolve ao longo da obra. Sinto como se estivessem “martelando” algo na minha cabeça que não sei definir, mas que vai entranhando aos poucos. Ideias que surgem em pedaços, curtas e que pausadamente vão se mostrando mais, se revelando. Repetições de padrões, notas e a fragmentação de ideias que vão sendo reapresentadas, variadas e alongadas dá essa sensação de construção de um sentido, um desenvolvimento progressivo.
Quando penso na época em que foi escrita, me ocorre que essa busca se refere a um sentido para tudo o que foi destruído no pós-guerra; a diluição dos ideais e os jogos de poder devastaram boa parte do mundo, que, desiludido, tateava nos anos seguintes alguma resposta ao próprio mundo. Ao dar uma breve pesquisada sobre a obra, vejo que ela foi escrita a partir da aproximação de Cage com a filosofia indiana, que pode ser por mera afinidade com o tema, mas como parte de uma época, é possível inferir que a filosofia indiana foi o campo utilizado por Cage para procurar esse preenchimento de sentido. A repetição de motivos e notas pode até ser relacionada a um “mantra”.
Achei alguns elementos relevantes na obra que podem dar coerência a essa ideia da busca.
Ela começa com o espaço sonoro rarefeito: longas pausas irregulares intercaladas por sons mais percussivos do que focados na altura. Há uma enorme variedade de timbres por conta da preparação, que gera vários tipo de sonoridade: cordas totalmente abafadas – percussivas; cordas que soam mais metálicas como xilofones (geralmente as mais agudas); cordas que têm a afinação perceptivelmente alterada; cordas que soam metálicas, mas mais graves, como uma lata de lixo; outras que soam como sinos; outras que produzem também um chiado; e até algumas que se assemelham a timbres eletrônicos. Essa grande possibilidade de timbres também é usada como um recurso para