Um texto interessante para olharmos o Brasil a partir de elementos cotidianos, é o texto de Roberto Damatta, Comidas e Mulheres, do livro o que faz o brasil, Brasil. Para o autor a sociedade manifesta-se por meio de muitos espelhos e vários idiomas. Comidas e mulheres, exprimem teoricamente a sociedade, tanto quanto a política, a economia, a família, o espaço e o tempo, em suas preocupações e, certamente, em suas contradições. Da mesma for, continua Damatta, expressões como o cru e o cozido podem significar com muito mais facilidade um universo complexo, uma área do nosso sistema onde podemos nos enxergar como formidáveis e nos levar finalmente, muito a sério. Nesse sentido, o cru seria tudo que está fora da área da casa onde somos vistos e tratados com amor, carinho e consideração, podendo escolher a comida. Ou seja: o cru é tudo aquilo que está fora do controle da casa. Já o cozido é algo social por definição. Damatta aponta ainda uma distinção entre comida e alimento, por essa tipologia pode-se comprender as relações sociais no Brasil, pois nem tudo que é alimento é comida. Mas qual é a comida brasileira básica? Certamente que se trata do feijão-com-arroz, essa comida que é até mesmo usada como metáfora para a rotina do mundo diário. Comer arroz e feijão, então, é misturar o preto e o branco, a cama e a mesa fazendo parte de um mesmo processo cultural... Comida não é apenas uma substância alimentar, mas é também um modo, de alimentar-se. E o jeito de comer define não só aquilo que é ingerido como também aquele que ingere. A comida vale tanto para indicar o ato de alimentar-se quanto para definir e marcar identidades pessoais e grupais, estilos regionais e nacionais de ser, fazer, estar e viver. Num sentido muito geral e culturalmente valorizado.