Resumo - capítulo 04 - sobre comidas e mulheres...
A sociedade manifesta-se por meio de muitos espelhos e vários idiomas. Um dos mais importantes no caso do Brasil é, sem dúvida, o código da comida, em seus desdobramentos morais que acabam ajudando a situar também a mulher e o feminino no seu sentido, talvez mais tradicional. Comidas e mulheres, assim, exprimem teoricamente à sociedade, tanto quanto a política, a economia, a família, o espaço e o tempo, em suas preocupações e, certamente, em suas contradições. O antropólogo francês Lévi-Strauss quem chamou a atenção para os dois processos naturais - o cru e o cozido -, não somente como dois estados pelos quais passam todos os alimentos, mas como modalidades pelas quais podem falar de transformações sociais importantíssimas. Num plano mais filosófico e universal, sabemos que cru se liga a um estado de selvageria (a um estado de natureza), ao passo que o cozido se relaciona ao universo socialmente elaborado que toda a sociedade humana defina como sendo o de sua cultura e ideologia. Mas é básico continuar enfatizando que a comida permite realizar uma importante mediação entre cabeça e barriga, entre o corpo e a alma, permitindo operar simultaneamente com uma série de códigos culturais que normalmente estão separados, como gustativo, o código de odores, o código visual, e, ainda, um código digestivo; posto que no Brasil também se classifica os alimentos por sua capacidade de permitir ou não uma digestão fácil e agradável. Mas esses estados e suas concepções variam. Para europeus e norte-americanos, cru e cozido, alimento e comida, são categorias científicas, nem sempre levadas em conta no próprio ato de comer, conforme nos revelam as imensas saladas e as "comidas naturais" que são digeridas em países como Estados Unidos e Inglaterra como pratos principais, algo bem recente no Brasil. Para nós, o cru e o cozido podem significar com muito mais facilidade um universo complexo, uma área do nosso sistema onde podemos nos enxergar como