Sobre comida e mulheres
Sobre Comida e Mulheres DaMatta distingue o que é "cru e cozido". Enquanto o cozido permite a relação e a mistura de coisas do mundo que estavam separadas, o cru é o oposto do mundo da casa, é como uma área cruel e dura do mundo social. Continuando a discernir comida de alimento, é válido dizer que o primeiro (comida), é tudo aquilo que pode ser ingerido para manter uma pessoa viva, algo universal e geral. A comida é tudo aquilo que foi valorizado e escolhido dentre os alimentos.
O antropólogo francês Lévi-Strauss foi quem chamou a atenção para os dois processos naturais – o cru e o cozido –, não somente como dois estados pelos quais passam todos os alimentos, mas como modalidades pelas quais se pode falar de transformações sociais importantíssimas. Num plano mais filosófico e universal, sabemos que cru se liga a um estado de selvageria (estado de natureza), ao passo que o cozido relaciona-se ao universo socialmente elaborado que toda a sociedade humana define como sendo o de sua cultura e ideologia. Mas é básico continuar enfatizando que a comida permite realizar uma importante mediação entre cabeça e barriga, entrecorpo e alma, permitindo operar simultaneamente com uma série de códigos culturais que normalmente estão separados, como o gustativo, o código de odores, o código visual e, ainda, um código digestivo, posto que no Brasil também classificamos os alimentos por sua capacidade de permitir ou não uma digestão fácil e agradável.
Para nós, o cru e o cozido podem significar com muito mais facilidade um universo complexo, uma área do nosso sistema onde podemos nos enxergar como formidáveis e nos levar finalmente, muito a sério. Nesse sentido, o cru seria tudo que está fora da área da casa onde somos vistos e tratados com amor, carinho e consideração, podendo – consequentemente – escolher a comida. Ou seja: o cru é tudo aquilo que está fora do controle da casa. Já o cozido é algo social por definição. Não é somente o nome de um