Similaridades culturais e literárias
Aqui no Brasil, a TV é ligada. Marido e mulher estão de olhos fixos na grande tela de alta definição. No quarto, o filho do casal joga o jogo do momento em seu potente Xbox Playstation. Na cena do filme a que assistem o casal, uma jovem mãe prepara o jantar, enquanto o filho se encontra no quarto, jogando no Xbox Playstation. O observador, à parte, não pensa duas vezes para localizar o espaço do filme: um lar de classe média americana. Por que não um lar português? Ou francês? Ou inglês? Em qualquer país do mundo, a chance de alguém reconhecer a cena do filme como um lar americano é cem por cento. No entanto, em nenhum deles ninguém se sente tão à vontade como os brasileiros em relação à cultura americana. Trata-se de um paradoxo: nós, latino-americanos, tendemos a culpar os Estados Unidos por tudo de ruim que nos acontece, economicamente falando.
O que não se evidencia são as semelhanças entre as duas culturas. Outro paradoxo, porque os americanos, em geral, são distintos dos brasileiros. De qualquer modo, pode-se reconhecer, no Brasil, diferenças entre os sulistas e os nordestinos, tal como ocorre nos Estados Unidos entre o Sul e o Norte.
Dos anos 80 para trás, no século XX, cada verão (ele, o verão!) trazia uma novidade que se tornava a moda do momento nas brincadeiras das crianças brasileiras. Do mesmo modo, era no verão que as crianças americanas tornavam a brincadeira do momento em moda. Fomos colonizados pelos portugueses, mas, dificilmente um leitor brasileiro se reconhece num romance português, tal como se dá num romance americano. De onde vêm essas similitudes? A América para os americanos?
Os espanhóis colonizaram parte da América do Sul. O Brasil faz fronteira com países cuja cultura deriva da Espanha. Compartilhamos algumas semelhanças, é verdade. A tendência para o populismo, por exemplo, e o fato de que ainda somos sociedades em desenvolvimento.