CALVIN & HOBBES E O PARADOXO NA CARACTERIZAÇÃO DO CONSUMO NA SOCIEDADE PÓS-MODERNA
O escopo desta pesquisa, abordado sob a ótica dos Estudos Culturais, é lançar um olhar descritivo-analítico sobre as comic strips desenvolvidas pelo cartunista Bill
Watterson, Calvin & Hobbes, especificamente aquelas arquitetadas como um ponto suscitador de reflexão sobre o consumo. Tal empreitada se dará através de um diálogo entre as vozes, dentre outros, de críticos dos dois pólos no campo de estudos do produto cultural. Dentre eles há os que defendem a democratização da cultura e que vêem até mesmo alguns dos produtos da cultura de massas como socialmente úteis, como também aqueles que apontam a cultura de massas como uma epidemia pósindustrial, consequentemente, como uma “necrose”, uma doença a ser erradicada (ou simplesmente ignorada).
No entanto, antes de discutirmos temas como “estudos culturais”, faz-se necessário o esclarecimento de alguns conceitos de forma a posicionar o objeto em questão no universo literário, logo, relevantes no contexto da presente pesquisa. Nesse sentido, é indispensável uma exposição objetivando a tentativa de estabelecimento de uma relação entre comics e literatura, focando similaridades e divergências. Por exemplo, sabemos que a questão “o que é literatura?” não é fácil de se resolver, logo, antes de se afirmar que comics nada tem a ver com literatura façamos uma reflexão, e para que ela se concretize deixemos que a voz do teórico marxista Terry Eagleton ecoe neste trabalho.
Na introdução de seu livro Literary Theory, An Introduction, Eagleton desenvolve esta discussão apontando algumas afirmações conceituais do que possa ser literatura, mostrando idéias de formalistas russos, e ressaltando que a definição formalista pode especificar literariness2 mas não “literatura”. Então, a certo ponto, ele afirma que “literature cannot in fact be „objectively‟ defined. It leaves the definition of
2 De acordo com Eagleton um dado texto pode adquirir, ou não, a qualidade literária,