Sexualidades Coloniais

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Tratar da temática das moralidades coloniais numa época em que se operava, na Europa, o processo de individuação e de privatização das sociabilidades exigiria, para evitar anacronismos e transposições precipitadas, atentar para as especificidades do viver em colônias.
Neste sentido, convém lembrar, antes de tudo, o que há tempos não constitui novidade: a colonização do Brasil inscreve-se muito mais nesse processo de expansão marítima e comercial européia do que nas transformações que levariam, no Velho Mundo, ao individualismo e ao familismo de tipo burguês.
Motivava-a, fundamentalmente, a exploração do território para o enriquecimento da metrópole, não obstante a cruzada espiritual levada a cabo pelos agentes eclesiásticos da colonização, à frente dos quais os jesuítas.
Não quer isto dizer que devamos adotar o estereótipo de um Brasil ocupado por degredados, entendidos como malfeitores que, tão logo desembarcavam, só tratavam de enriquecer, enquanto se uniam com várias índias ao mesmo tempo, adotando sem demora a poligamia indígena. Avessos ao casamento, errantes, aventureiros. Tampouco se deve esposar, como modelo único, o paradigma da casa-grande, celebrizado antes de tudo por Gilberto Freyre
1. A idéia da casa-grande como espaço inclusivo, núcleo de numerosa família de parentes, agregados e escravos, exemplo de um “privatismo” patriarcal que a tudo senhoreava, confundindo-se com o público, tudo isto tem sido fartamente discutido, com boas provas, desde os anos 1970.
Diversos pesquisadores demonstraram, com efeito, que no Brasil
Colônia não foi desprezível a importância quantitativa de domicílios conjugais e até de domicílios chefiados por mulheres, quer em áreas periféricas, quer em regiões diretamente vinculadas à economia exportadora
2. Demonstrou-se, também, que no
*Originalmente publicado em Laura de Mello e Souza (org). História da Vida Privada no Brasil.
Sào Paulo, Companhia das Letras, 1997, vol.1.
1- Freyre, Gilberto.

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