setubal
Nos anos de transição do século xix para o século xx, Setúbal deixou de ser uma comunidade rural e piscatória tradicional e transformou-se num centro fabril. Uma das áreas em que esse processo muito claramente se reflectiu foi, sem dúvida, a população.
A causa principal destas violentas mudanças reside no desenvolvimento económico da cidade (sobretudo na implantação da indústria de conservas e no incremento das actividades dela subsidiárias, como a pesca), não na prosperidade geral do concelho — como o contínuo alargamento da parte da população urbana demonstra.
A principal matéria-prima da indústria de conservas, o peixe, existia com abundância nas costas de Setúbal. As espécies mais vulgares eram a sardinha, a cavalinha, o biqueirão ou anchova, o carapau e o chicharro.
Acabado o trabalho, os barcos pertencentes às armações e aos cercos traziam o pescado para o Cais de Nossa Senhora, onde se fazia a lota.
Como qualquer pessoa, os fabricantes esperavam pelo leilão 11. O dono do peixe, ou quem o substituía (provavelmente, a troco de uma pequena percentagem dos lucros), declarava o preço mais alto por que avaliava a mercadoria e, se ninguém se mostrava interessado, reduzia-o pouco a pouco, até que um dos compradores potenciais gritasse «chiu», concluindo automaticamente o negócio. As barcas vendiam-se por inteiro e a lota funcionava de manhã e à tarde, sendo, por regra, os industriais os primeiros a abastecer-se. A quantidade e a qualidade da oferta decidiam do nível dos preços.
Frequentemente, logo que apanhavam a sardinha (ou outra espécie), os pescadores escorchavam-na e metiam-na dentro de moiras (recipientes cheios de água doce em que se guardava o peixe coberto de sal), que preparavam ainda nos barcos. Quando chegava à fábrica, as mulheres punham de parte a sardinha moída,