Sentimento
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo, mas estou cheio escravos, minhas lembranças escorrem e o corpo transige na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu estará morto e saqueado, eu mesmo estarei morto, morto meu desejo, morto o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram que havia uma guerra e era necessário trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso, anterior a fronteiras, humildemente vos peço que me perdoeis.
Quando os corpos passarem, eu ficarei sozinho desfiando a recordação do sineiro, da viúva e do microcopista que habitavam a barraca e não foram encontrados ao amanhecer
esse amanhecer mais noite que a noite.
Poema de Carlos Drummond de Andrade1940
Carlos Drummond
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais em 1902. Após estudos em sua terra natal e Belo Horizonte, foi interno no Colégio Anchieta, em Friburgo, em 1918. No ano seguinte, foi expulso devido a um incidente com o professor de português. Em Itabira, apesar de formado em farmácia, vivia das aulas de português e geografia. Tornou-se funcionário público em 1929, e, em 1934, o cargo no Ministério da Educação transferiu-o para o Rio de Janeiro. Em 1945, foi co-editor do jornal comunista Tribuna Popular a convite de Luís Carlos Prestes. A partir da década de 50, dedicou-se apenas à literatura, escrevendo novos livros de poesias e contos. Além de intensificar a produção de crônicas, fez também traduçõesPrincipais Obras
Poesia
Alguma Poesia (1930); Brejo das Almas (1934); Sentimento do Mundo (1940); José (1941) Poesias (1942); A Rosa do Povo (1945); Poesia Até Agora (1948); A mesa (1951); Claro Enigma (1951); Viola de Bolso I (1952); Fazendeiro do Ar e Poesia Até Agora (1955);Viola de Bolso II (1955); Soneto da Buquinagem (1955); 50 Poemas Escolhidos pelo Autor (1956); Ciclo (1957); Poemas (1959); Lição de Coisas (1962); Antologia Poética (1963); José & Outros (1967);