semiotica
Interpretação do poema concreto a fumaça, de Horácio Dídimo, cujo foco é a relação sígnica entre elementos do poema e da citação bíblica que o acompanha.
É verificado que Horácio Dídimo é um desses poetas que instigam o leitor. Dotado de muita sensibilidade, tanto para os fatos contemporâneos, como para a espiritualidade e o misticismo, ele compõe poemas, que aguça a curiosidade, pois coloca o leitor em contato com o mundo abstrato e simbólico, que, no mais das vezes, vem impregnado de humor e ironia, uma de suas maiores características, e isso percebemos nos textos em estudo a fumaça e Ecl.8,8.
Dentro da visão sugerida pelas potencialidades semânticas do diálogo dos dois textos que formam o poema a fumaça, entende-se aqui que a falta de sabedoria do homem o leva a destruir seu bem por excelência: a vida. O texto de Eclesiastes 8:8 destaca, através de Senhor e da negativa da segunda parte do texto, a incapacidade do homem, absolutamente dominado pela soberba, a ilusão de que tem o domínio sobre a vida e os elementos da Criação.
No citado poema é notável que há uma relação estabelecida pelo poeta entre o texto bíblico e o que ele mesmo escreveu, visto que a figura humana é apresentada como cheia de enganos e de falta de sabedoria, disciplina e entendimento. Deixando-se arrastar pela soberba, agride de forma mortal sua frágil constituição física, demonstrando total incapacidade de compreender que nem é dono de si e não tem condição de conservar o que pode mantê-lo vivo.
Por fim, a figura construída na página, a partir da eliminação gradual das letras finais da palavra cigarro, até consumir os signos gráficos, para reduzi-los ao mínimo necessário para o desfecho ou resultado, como símile do objeto sendo lentamente consumido pelo fogo interno que o transforma em cinza, realiza uma das mais importantes conquistas da poesia concretista, ou seja, fazer o leitor ver as figuras saídas das palavras, mostrando que